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segunda-feira, 15 de agosto de 2011

POESIAS



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Apresentamos aqui uma selação de trabalhos do poeta Edmar Eudes (edmareudespoeta@blogspot.com). Já com uma longa trajetória pelo mundo da poesia (com prêmios recebidos e livros publicados), esse poeta é membro de movimentos sociais dos quais os outros colaboradores deste blog fazem parte. Cabe bem aqui, parece-nos, a reflexão de Shakespeare, para todos aqueles empenhados na luta por uma sociedade melhor: 


 "Sem a arte a vida seria apenas caos e fúria."




SINAL DE VIDA


A televisão e o rádio
falam de guerra.

No jornal, só violência!
Na rua, vê-se a morte ao vivo.

Morre o homem,
morre a mulher,
morre a criança,
morre a alegria,

Junto com a paz!...

Fecho a televisão
fecho o rádio
fecho o jornal
fecho a porta do quarto...

E beijo Rosa, ruidosamente,
para todos ouvirem
que o amor ainda está vivo!

Edmar Eudes





APENAS UM POETA
Estes versos, por incrível que pareça, eu fiz quando estava dormindo.


Não sou poeta famoso
sou apenas um poeta,
nem tão pouco um imortal,
sou apenas um poeta
que ao ver a lua e estrela
a fazer festa,
se não escreve 
passa mal


Edmar Eudes






MÃE É MÃE


Eu faço verso
pra Virgem Maria
que um dia
deu à luz ao Salvador.

Faço verso
pra mãe operária
na sua vida precária
servindo ao seu Senhor.

Pra mãe negra
meu verso faço
ela que sobre o embaraço
da discriminação.

Eu faço verso
pra mãe prostituta
que pelo filho
vai à luta
em busca do pão.



DE POETA E LOUCO...

Ser poeta
é sair à meia noite
na rua
a conversar com as estrelas
com a lua
apressadamente
ou pouco a pouco
sem se importar
que alguém o chame de louco
ser louco
e falar palavras bonitas, estranhas
a todas as mulheres que o assanham
ou ao ouvido da predileta
sem nenhum medo de ser chamado
de poeta.


A POESIA E EU

A poesia é meu refúgio
nas horas de aflição
minha cúmplice e até repórter
desse meu coração
a divulgar os meus medos
e editar meus segredos
em versos de mão em mão.


*Sou um poeta do povo
e escrevo para vocês
se um dia eu nascer de novo
serei poeta outra vez


No meu estado de poeta
não me estanca a hemorragia
com minha veia poética
sempre a sangrar poesia.


Edmar Eudes













Tito é, antes de mais nada, um livre pensador. Creio que seja uma considerável responsabilidade essa de apresentar os colaboradores desse projeto, por isso mesmo essa preocupação de ser o mais preciso e exato possível é recorrente; mas o Tito é isso mesmo: um livre pensador. Na música, na poesia ou em seu engajamento social no bairro da Serrinha sua preocupação parece sempre ser a de não se deixar "castrar" por nenhum grupo, por nenhuma maneira pré-determinada de pensar e agir. Talvez por isso mesmo, portanto, suas poesias possam ser classificadas simplesmente de "gritos de liberdade'"



O POEMA
O poema saltita em meu cérebro
Que liquidifica rochas vivas.
Quer um abrigo por uma noite
E se prostituir no outro dia.
O poema me consome
Suga minha energia debilitada
O poema não tem dono
Quer o tempo como morada.

OLHANDO MINHA CIDADE
Olhando minha cidade
Vejo imagens de livros antigos.
Dizem-me que pouca coisa mudou...
A multidão ainda é temida, e a solução ainda cospe fogo.
Olhando minha cidade sinto ainda o odor,
a desgraça constante, mesmo descrita com um toque artístico.
A minha cidade continua a abrigar o medo, a incerteza. Quem tenta nela sobreviver.
A minha cidade olhando a si mesma
deixa escorrer do seu rosto lágrimas de sangue.
Este sangue que já percorreu tantos lugares, que matou e ainda continua a matar tantas almas!




                                                                  Milton E.F.
Milton é desenhista e pintor. Historiador e músico, sua preocupação fundamental é com a educação e com a sua importância para a transformação de paradigmas.



A Morte da Arte e da Inteligência
(reflexão sobre a violência: é somente com violência que conseguiremos combater o “sistema”? Não há outros meios possíveis?)



A Violência percorre todas as ruas e todas as mentes;
A Violência que obscurece a razão, e deixa a expressão
“bom senso” completamente sem sentido...

A Violência que é caminho à loucura
E a loucura que é caminho à Violência

A Violência que, posta em movimento
apenas com muita dificuldade retorna à inércia,
pois tendo nos tirado  a razão e a memória
(e isso ela faz muito bem)
Leva-nos à ausência de consciência de nossas ações.

 A Violência é a agressividade sem necessidade,
sem motivo e sem razão de ser;
a Violência é o supérfluo da agressividade.

A Violência é histérica!

Em um mundo mergulhado em Violência
não há sentido para as artes,
pois os seres humanos acostumados à Ela perdem aos poucos a sensibilidade...

A Violência do culto ao consumo;
A Violência do hedonismo irracional,
que supervaloriza as sensações em detrimento dos sentimentos,
e torna os seres humanos nada mais que feixes de nervos
em initerruptos espasmos convulsivos!

A Violência do individualismo selvagem;
Que faz o ser humano esquecer que ele nada é sozinho,
e cego em sua violenta irracionalidade torna-se capaz de matar a própria mãe em troca de fama  e dinheiro.

Se encontro na ciência e nas artes nada mais que Violência,
Se em tudo o que olho vejo Violência simplesmente
(inclusive naqueles com os quais compartilho minha humanidade),
que razões terei eu para viver?

Apenas uma: resistir à Violência!

Milton E.F.
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NIILISMO - reflexão


O professor, realizando seu trabalho, cumpre uma verdadeira missão. Seu objetivo não é levar informação àqueles por quem ele é responsável pela formação, mas sim, conhecimento. O que é a mera informação diante da capacidade de impor-se diante dela? De que vale saber que dois mais dois são quatro, se não sabemos o que fazer com isso? O professor que leva uma visão crítica diante da informação e do próprio mundo, esse sim é digno de se chamar dessa forma. Se no passado a formação enciclopédica abarrotava as mentes juvenis de informações de todos os tipos, dificultando assim o próprio raciocínio (é paradoxal essa observação, mas verdadeira. Da mesma forma que não se pode pensar sem informação alguma, torna-se também muito difícil a reflexão quando se tem um mundo de informações na mente, mas tempo nenhum para organizá-las), não podemos reproduzir esse padrão educacional, pois ele está condenado ao fracasso...

O passado teve seus erros e seus acertos. O acerto, parece-nos, foi a ênfase na ciência, na racionalidade e na visão objetiva de mundo. Nossa civilização não realizou os progressos esperados, mas isso, certamente, não foi devido ao fracasso da ciência, mas ao fracasso do próprio ser humano. Nosso orgulho, vaidade em excesso e nossa arrogância nos cegaram, como ainda hoje fazem com frequência. Comumente não vemos o que está diante dos nossos olhos; não porque a ciência seja falha, mas porque o nosso orgulho não nos permite reconhecer que estamos errados. Não queremos dar o braço a torcer. Um grande pensador (Thomas Khun) já disse que, muitas vezes, a única forma de uma idéia nova e melhor vir à tona é esperar toda a velha geração, defensora das idéias velhas e ultrapassads, morrer. Pois bem, assim o é, de fato. Quando superaremos nosso orgulho e começaremos a dialogar de fato? Quando decidiremos abrir de fato nossos olhos à verdade? Quando teremos a maturidade de pedir desculpas aos nossos companheiros quando for preciso? Quando deixaremos de sermos, nós mesmos, obstáculos ao avanço da mente, da ciência, da razão, do bom senso?

E hoje temos um novo inimigo. Se no passado acreditávamos na ciência e nas promessas da ascensão da racionalidade hoje nossos pensadores já não crêem mais em nada... No passado esperávamos que o mundo se tornasse um lugar melhor; hoje, poucos além dos religiosos, guardam ainda essa esperança. Não vêem nossos pensadores que nosso erro não foi termos acreditado nas promessas da razão, mas termos nos deixado cegar pelo orgulho, pela vaidade e pela arrogância. Quantos cientistas não foram cegos pela crença de que não podiam errar, e assim, muitas vezes obstruíram o caminho do bom senso coletivo com a defesa irracional de idéias incorretas? Quantos, ainda hoje, se negam a perceber que a ciência não é propriedade pessoal de ninguém, mas de todos; a ciência é um bem maior da humanidade! E assim, os pensadores mais jovens, cansados de assistir ao orgulho exacerbado dos pensadores mais velhos, de ter que contemplar os orgulhosos e meio cegos baluartes da ciência degladiarem-se pela afirmação de seus egos inflamados, desistiram da ciência, desistiram da busca pela verdade.

Eis que surge, a partir daí, o Reinado do Niilismo, a negação da ciência, a negação da racionalidade, a negação dos projetos coletivos, a descrença na luta por uma humanidade unida, justa, fraterna. A descrença no ser humano e em seus atributos (a racionalidade, principalmente) nos levou à inação, à apatia, ao desânimo. O ser humano, desorientado e sem perspectivas, vislumbra apenas dois caminhos: o culto à violência ou o retorno à irracionalidade das comunidades ancestrais. E assim, aqueles que lutavam por uma política mais justa, já não lutam mais. Aqueles que lutavam pelo progresso da ciência, já não lutam mais. Aqueles que lutavam pela fraternidade universal, já não lutam mais. Hoje, falar nessas coisas é sinônimo de ingenuidade ou ignorância. O termo Razão tornou-se quase um palavrão, e aqueles que ainda acreditam no lema “Liberdade, Igualdade, Fraternidade” são silenciados por uma violência invisível, chamada descrédito.

Hoje ficamos em casa, trancados, com medo do mundo e desconfiados de todos os outros. Não conseguimos mais acreditar na bondade humana e por isso nos tornamos reféns da incredulidade quanto à intensões que qualquer um. Tornamo-nos meio paranóicos meio esquizofrênicos, descrentes de nós mesmos, vulneráveis a todo tipo de irracionalismo e a todo tipo de pensamento superficial, fágil e insensato. Quanto mais apáticos, mais úteis ao sistema, mais manipuláveis e mais sujeitos à lavagem cerebral da mídia. Autores populares ganham fama e sucesso com fórmulas fáceis, irracionais, infantis mesmo. Por outro lado há os que defendem a descrença total quanto à tudo, e esses são tidos como os pensadores maduros, fortes e corajosos, por enfrentarem o que chamam de “vazio da existência”.  O Vazio, de fato, toma conta do mundo (mas não por conta de sua existência objetiva, mas por conta de seu poder sobre nossas mentes), o niilismo avança como, ao que parece, mais um tipo de arma contra o progresso da ciência e da civilização... Se ontem foi a irracionalidade dos dogmas religiosos (Idade Média) a nos oprimir e às nossas potencialidade, hoje é a irracionalidade do niilismo, com sua crítica à razão e aos atributos humanos.

Mas a luta não está finda. A História humana ainda está longe de acabar (como bem o perceberam os que defendiam o “Fim da História”) e novos momentos virão. A História é cheia de altos e baixos, revezes são comuns em sua trajetória e só o futuro dirá o que nos espera. Saibamos disso: lutemos por algo, acreditemos em algo – ou mesmo no nada, quem assim o desejar – mas tenhamos em mente que novos tempos trazem novas idéias, e nenhum de nós tem como ter certeza de quais idéias dominarão o tempo de amanhã. Quanto a mim, como professor, prefiro acreditar no ser humano e em seu potencial maior: a Razão e o Amor.

Milton EF
























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