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segunda-feira, 15 de agosto de 2011

O QUE É HUMANISMO


O QUE É O HUMANISMO

 

Bem o sabem aqueles preocupados com o atual estágio da nossa sociedade como é importante a perspectiva humanista! Pensando na realização tanto do projeto do Espaço Cultural como do blog que aqui apresentamos é que percebemos o conceito de “humanismo” como estratégico em meio a todas essas idéias.

 

Mas e o que é “Humanismo”? Esse conceito já tem alguns séculos e sua importância é inquestionável entre todos aqueles interessados pelas artes e pela ciência como um todo. Sim, isso de fato ocorre porque tanto o artista como o cientista faz o que faz com um objetivo, e se esse objetivo não for o mero “ganhar dinheiro” então ele o fará pelo seu próprio desenvolvimento, pela sociedade em que ele vive, pelo ser humano enfim. E poderia ser de outra forma?

 

O fim da Idade Média foi um importante marco na História da Humanidade para a perspectiva humanista. As autoridades de então criaram – e quem tem algum conhecimento de história daquele período sabe bem disso - um sistema sócio-cultural que fazia duras críticas às conquistas filosóficas da Grécia clássica. A defesa da razão e da crença na capacidade criativa humana havia sido substituída pelo fanatismo, pela ignorância e pela cega submissão aos valores religiosos. Em meio a essa cultura irracionalista, a concepção defendida pelos filósofos gregos do classicismo de pôr o ser humano como referência fundamental foi superada, e os valores transcendentes tornaram-se referência fundamental.

 

Para esse modelo de visão de mundo a vida em si não era importante, o prazer era algo condenável e apenas a subserviência absoluta às autoridades (especialmente às religiosas) e a aceitação de uma vida de ignorância (“humildade que agrada a Deus”) e de sofrimento seriam as garantias de conquista de um bem que era valorizado mais do que qualquer outra coisa: a “salvação eterna da alma”.

 

Esse foi um período no qual a cultura urbana entrou em decadência, no qual a perspectiva científica foi praticamente esquecida no mundo ocidental, no qual o conceito de justiça social voltou a não ter mais sentido algum e a filosofia passou a ter razão de ser apenas se completamente inserida no contexto religioso.

 

Mas como já foi dito: “você pode engar muita gente durante bastante tempo, mas não pode enganar a todos, muito menos para sempre”. As cruzadas, o contato com o mundo oriental, trouxeram novas idéias às sociedades ocidentais, o comércio floresceu novamente e no início, especialmente, na mesma região na qual ele havia tido tanto incremento: na região da Península Itálica, ao redor do mediterrâneo. As grandes navegações logo se iniciaram, presenciamos um assombroso desenvolvimento da ciência e da tecnologia (não usamos essas duas expressões como representantes do mesmo sentido, mas deixaremos para conversar sobre isso em um outro momento) e pessoas como Descartes, Galileu e Newton puderam finalmente expressar suas idéias sem sofrerem as ameaças da Igreja – muito embora saibamos todos que Galileu, especialmente, teve lá seus dias ruins, mas isso deveu-se também, de acordo com especialistas, ao seu conhecido temperamento difícil -  e a Idade Moderna teve início. Deste período cujas conquistas hoje são tão controversas (pessoalmente, já tentaram xingar-me chamando-me de “iluminista”, e é notório que expressões como “racional”, “progresso”, “evolução social” são hoje quase palavrões em certos meios...) acreditamos que a maior conquista tenha sido a valorização da idéia justamente de liberdade de expressão, cujo exemplo histórico mais representativo provavelmente seja a frase de Voltaire, criticando a fogueira que fizeram de escritos de Rousseau: “Posso não concordar com nenhuma das palavras que você disser, mas defenderei até a morte seu direito de dizê-las”.

 

É fundamental que compreendamos a importância desse valor social, o de liberdade de expressão! A luta por uma sociedade mais justa passa invariavelmente pelo respeito à individualidade (que não é o mesmo que individualismo) e pelo respeito à opinião alheia (que não é o mesmo que relativismo ou ditatura da subjetividade). Como falar em liberdade se não se tem direito de expressão? Não poder dizer o que se pensa é quase o mesmo que não poder pensar! E não poder pensar é não ter o segundo direito fundamental, o de ser o que se é: humano. (quanto ao primeiro, cremos que não haja um dissenso quanto ao fato de que seja o direito à vida).

 

As conquistas da Idade Moderna devem ser compreendidas e valorizadas, pois elas são as bases da nossa sociedade e foram estabelecidas com o sacrifício de muitas pessoas corajosas e ousadas. Como criticar o conhecimento, a inteligência, a ciência (lembremos aqui que é a nossa capacidade de gerar conhecimento que tem possibilitado a nossa sobrevivência, afinal, nossos organismos são frágeis e muito pouco poderíamos fazer largados à natureza, sem roupas nem ferramentas), além de valores como “igualdade, liberdade, fraternidade”?

 

Claro que aqui cabe a velha discussão sobre os problemas da efetiva distribuição dessas conquistas por entre as várias “classes sociais”, mas lembremos que essa discussão apenas foi possível (também) devido às conquistas da Idade Moderna. Mas o ponto onde gostaríamos de chegar é o de que todos esses valores, todas essas reflexões, conquistas e debates são fruto da corrente filosófica que convencionou-se chamar de “Humanismo”, e dentre as variadas definições que pudemos encontrar para essa postura filosófica a que mais nos pareceu esclarecedora e exata foi a que explica que o Humanismo é a resgate da valorização da condição humana, das potencialidades, inclusive sua racionalidade e inteligência, e a consequente crença de que essas potencialidades podem ser utilizadas para a construção de uma sociedade melhor.

 

Bom, não acreditamos que alguém irá levantar a voz na multidão para se opor a esses valores. No entanto, sabemos que alguns poderão dizer que pensar assim é uma grande ingenuidade, uma utopia – como de fato há os que assim pensam – mas condenar a busca por esse estado de coisas é realizar um esforço no sentido de não caminhar para lugar nenhum... Isso porque, se pensarmos bem, veremos que não faz sentido algum criticar a luta por uma sociedade melhor; o que se pretende com essa crítica? Desestimular aqueles que acreditam nesse esforço? Promover um ceticismo generalizado? Disseminar o Niilismo por toda a face da Terra, de forma que no futuro não haja mais nem um ser humano sequer encantado com a vida? Além de um grande crime contra o ser humano e contra o direito à própria “dúvida filosófica”, agir assim é portar-se de uma maneira profundamente inconsequente, afinal, não termos conseguido construir uma sociedade desprovida de grandes injustiças sociais não implica na conclusão de que isso não poderá jamais ser conquistado algum dia... Para reforçar essa idéia basta lembrar que durante a Guerra Fria a humanidade por pouco não sucumbiu  a uma hecatombe nuclear, e no entanto estamos ainda aqui, para dar continuidade à epopeia humana!

 

 

 

 

Milton Emmanuel O. Ferreira

 

Milton Emmanuel O. Ferreira é músico e pintor, professor do Núcleo de Atividades em Altas Habilidades/Superdotação do Estado do Ceará. É graduado em História, concludente de pós-graduação em Psicopedagogia Clínica com pesquisa em andamento sobre Inteligência e Ética. É também aluno de graduação em Direito na Universidade de Fortaleza.

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